A mais estúpida de todas as armas
As minas continuam destruindo a vida de milhares, mesmo após o fim da guerra
Texto e fotos: Vinicius Souza
Imagine-se criança correndo pelo mato em volta da casa atrás da bola num dia de sol. Você se diverte tanto e ri tão alto que não chega a escutar o clique abafado uns cinco ou dez centímetros sob a terra. O som seguinte é tão estrondoso e a dor tão dilacerante que você também já não consegue ouvir. Com “sorte”, quando acordar terá perdido “apenas” uma perna. Mas morando na área rural de um país pobre, essa deficiência muito provavelmente irá marcá-lo por toda a vida destruindo qualquer possibilidade de um futuro melhor.
Esse é o drama e o perigo representado pela mais estúpida de todas as armas: a mina antipessoal. Milhões desses artefatos foram e continuam sendo plantados em todo o mundo, apesar dos exércitos mais modernos já terem descartado a mina terrestre como arma eficiente de guerra. Afinal, é impossível “fazer mira” com uma mina e, portanto, as vítimas podem ser os próprios soldados que minaram o campo. O pior de tudo é que uma mina não detectada pode permanecer ativa no solo por mais de 50 anos! É por isso que a maior parte das vítimas hoje são civis, principalmente crianças, em países onde a guerra acabou há vários anos, como Bósnia, Vietnã e Camboja.
Desde 1997 existe um tratado internacional de banimento das minas antipessoais. O Reino Unido foi um dos primeiros 40 países a assinar o tratado (muita gente ainda lembra da Princesa Diana fazendo campanha contra as minas em Angola). Ano passado, porém, se viu obrigado a destruir 3.360 novas minas anti-veículos plantadas no Iraque o detonador era muito sensível e, portanto, poderia atingir quem passasse sobre elas. Já os Estados Unidos simplesmente se recusam a abrir mão do “direito” de usar esse tipo de arma. Apesar de afirmar que não mantêm campos minados em lugar algum do mundo, pelo menos em Kosovo e no Iraque o exército americano recebeu carregamentos de minas. Também foram registradas 74 baixas entre militares norte-americanos vítimas de minas entre 2001 e 2003 no Afeganistão e Iraque.
Na América Latina, nove países enfrentam problemas com as minas. Os principais são Colômbia (onde guerrilheiros, exército e paramilitares continuam plantando minas em estradas e em volta de objetivos militares), Guatemala (por conta da guerra civil entre 1960 e 1996) e Nicarágua (devido principalmente à guerrilha de direita financiada pelos EUA, os “contras” durante os anos 1980).
Fotógrafo e jornalista, Vinicius Souza viu de perto o problema das minas em Angola em 2002 e na fronteira entre Índia e Paquistão em 2004. Junto com sua parceira Maria Eugênia Sá e com apoio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, está fazendo um levantamento da situação das minas em seis países da América Latina. Mais informações: http://mediaquatro.sites.uol.com.br/minas.html
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