A falta de capacitação adequada, de equipamentos de segurança pessoal, de mapas corretos, de qualidade das próprias minas e a principalmente a estratégia equivocada de retirada e re-inserção das minas, contrária a qualquer procedimento padrão de desminagem no mundo, causaram dezenas de acidentes. Oitenta e um profissionais que passaram pela antiga unidade DIVSAM-DEXA (Divisão de Seguridade de Ativação de Minas - Dispositivos Explosivos de Auto-Proteção) foram atingidos por explosões, muitos foram mutilados e cinco morreram em decorrência dos ferimentos. Dos sobreviventes, 41 foram aposentados por invalidez e 35 feridos leves contiuam trabalhando. Oito deles montaram a AVISCAM - Associação de Vítimas e Sobreviventes de Campos Minados, para os representar junto ao governo e Polícia Nacional, e também para criar projetos de educação sobre risco de minas para as populações das regiões afetadas. Entre 1989 e 2003, mais de 300 acidentes com minas foram registrados no Peru, 173 em torno das torres de transmissão de energia. São casos como o de Fredy Mendonza, que aos nove anos pastoreava suas ovelhas perto de uma torre de alta tensão no departamento de Junín quando viu no chão um objeto brilhante que imaginou ser um rádio. Em sua curiosidade infantil, pegou o artefato e apertou o botão que o fez explodir. A família o encontrou desfalecido e pensou que ele tivesse morrido. O menino só viria a se mexer quase 16 horas depois, no meio de seu próprio velório, quando finalmente foi levado ao hospital. Hoje ele vive na periferia de Lima e conta com o auxílio financeiro para os cuidados médicos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha - CICV e a ajuda de uma irmã de 12 anos para vender balas nos ônibus.
Segundo o relatório do Landmine Monitor, cerca de 60 mil minas foram retiradas dos terrenos em torno das 1.711 torres entre junho de 2002 e fevereiro de 2004. Mas até julho de 2005, só 50 dessas torres haviam tido assegurada a qualidade da desminagem. Em junho de 2005, a Policía Nacional declarou que 1.361 torres de energia previamente desminadas em Huancavelica, Ica e Lima ainda eram consideradas perigosas. País parte do Tratado de Otawa, que prevê a desminagem total do terreno e a destruição dos estoques de minas, desde 1999, o Peru de fato conta hoje com equipes de desminagem totalmente reformuladas, re-equipadas e melhor treinadas. Na Polícia Nacional, a atual unidade de desminagem DIVSECOM - Divisão de Segurança Contraminas, com cerca de 80 membros, conta com apoio de treinamento e atualização da OEA - Organização dos Estados Americanos. Os métodos são completamente diferentes dos utilizados nos anos 1990 e seguem os padrões internacionais estabelecidos. As minas encontradas já não são desenterradas, mas explodidas no local com toda a segurança. Cada esquadrão de desminagem é composto por oito profissionais: um chefe de esquadrão, dois detetoristas, dois sondadores, um especialista em explosivos, um enfermeiro e um encarregado de fazer a campanha de sensibilização e educação para risco nas comunidades próximas afetadas. Eles utilizam detetores de metais e se protegem com botas, coletes e capacetes anti-impacto apropriados.
- Cada esquadrão de desminagem da DIVSECOM
- é formado por oito sapadores profissionais.
O trabalho de garantia da qualidade de desminagem de todas as torres deveria ter sido concluído até junho de 2006, mas uma falha nos acordos de cooperação levou a um grade lapso de financiamento que paralizou essas atividades por um longo período. Como também não há atividades regulares de educação sobre riscos de minas no Peru desde 2003, os acidentes com civis continuam a ocorrer. É o caso do menino Noe Ñahuero Cordova, que morava com família indígena da etnia Quéchua, no departamento de Huancavelica. Assim como Fredy, ele também apanhou no campo um objeto que não conhecia. Noe levou o artefato para casa e no dia seguinte o amarrou em um graveto para colocá-lo no fogão a lenha. Com a explosão o menino de 10 anos teve o braço direito arrancado, perdeu um olho e teve que passar por uma cirurgia no outro para a colocação de uma lente intraocular. Ele também conta com algum auxílio médico do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Já entre os desminadores, a realidade mudou completamente. Desde e o reinício dos trabalhos de garantida de qualidade na desminagem em março deste ano, 523 torres foram liberadas. Foram encontradas nove minas e cerca de 1.700 restos de materiais explosivos potencialmente perigosos (UXOs - unexploded ordnances). No novo DIVSECOM, apenas acidentes mais leves foram registrados. O único caso mais sério ocorreu com o Major Liñan Vasques Julio, que teve a vista afetada e hoje está em tratamento numa unidade especial na Colômbia.
Biografia
Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá são jornalistas e fotógrafos que percorrem o mundo em projetos pessoais de cunho humanitário. Seu primeiro contato com a problemática das minas ocorreu em 2002 durante o projeto Angola - A Esperança De Um Povo, que resultou em diversas matérias, exposições e um livro. Eles também estiveram na fronteira minada entre Índia e Paquistão quando cobriram os movimentos separatistas da Caxemira em 2004. Desde 2005 desenvolvem o projeto América Minada, sobre a situação das minas na América Latina, que já resultou em quase dez artigos publicados na imprensa mundial, duas exposições fotográficas na Venezuela e Peru e que agora busca financiamento para novas exposições, a produção de mais um livro, um vídeo e continuação do projeto na América Central.
Notas
- "Peru." Landmine Monitor Report 2005. International Campaign to Ban Landmines. Updated October 2005. http://www.icbl.org/lm/2005/peru.html. Accessed October 23, 2006.
- Convention on the Prohibition of the Use, Stockpiling, Production and Transfer of Anti-personnel Mines and on Their Destruction, Olso, Norway. September 18, 1997. http://www.un.org/Depts/mine/UNDocs/ban_trty.htm. Accessed October 17, 2006. The document was opened for signature in Ottawa, Canada, December 3, 1997, and thus is commonly known as the Ottawa Convention.
Informações para contato
Vinicius Souza
MediaQuatro
Tel: +55 11 5093 2855 / 9631 0666
E-mail: vgpsouza@uol.com.br
Web site: http://mediaquatro.sites.uol.com.br
Maria Eugênia Sá
MediaQuatro
Tel: +55 11 5093-2855 / 8279-9997
E-mail: mge_sa@yahoo.com.br
Web site: http://mediaquatro.sites.uol.com.br