Edição #18
 
 
                 
               
               
                 
     
     
   

Salvador é para se jogar!

E curtir um Brasil com gostinho de África e boa infraestrutura

Por Vinicius Souza

Fotos: Maria Eugênia Sá e Vinicius Souza

Andando pelas estreitas e tortuosas ruas de paralelepípedos e prédios semi-destruídos da Cidade Baixa, em Salvador, quase não conseguia desviar meus pensamentos das lembranças de Angola. À minha frente, a Bahia de Todos Os Santos, com seu porto de onde saem os catamarãs e ferry boats para a ilha de Itaparica. Essa visão se confundia com a memória da baía de Luanda e sua península, chamada de "ilha" pelos angolanos. Os mesmos dorsos negros nus banhados pelo sol, o mesmo murmúrio das conversas em português, sons de atabaques distantes, os antigos edifícios de arquitetura colonial portuguesa, cheiros de comidas exóticas e pimentas ardidas.

De repente, um grupo de meninos se aproxima carregando fitinhas do Senhor do Bonfim: "Mister, mister! Guide, mister?" O quê!? Em inglês!!?? Tudo bem, éramos turistas com a câmera pendurada no pescoço. Mas somos tão brasileiros quanto a caipirinha, a feijoada, o acarajé, o vatapá… Epa, talvez nem os brasileiros sejam assim tão “brasileiros…". O fato é que logo depois de passado o susto inicial percebemos o seguinte: como paulistanos, éramos tão estrangeiros na Bahia quanto na África. E também que o tratamento, os preços e a infra-estrutura para os turistas na primeira capital do Brasil colonial estão muito longe dos oferecidos na costa africana.

Em Luanda uma diária em qualquer hotel apenas razoável não sai por menos de US$ 200. Uma corrida de táxi, US$ 100 e uma cerveja com pizza de presunto e queijo, US$ 60. Em Salvador uma suíte de frente pro mar no elegante Praia do Porto na Barra custa o equivalente a US$ 70 o casal. É aí que Caetano Veloso e Gilberto Gil costumam passar as férias. Mais diferenças? Num bom restaurante em pleno Pelourinho, principal centro turístico da cidade, um bobó de camarão (cozido engrossado com farinha de mandioca, leite de coco e azeite) para duas pessoas, mais bebidas, não sai por mais de US$ 30. O táxi de volta ao hotel fica em US$ 5. Isso sem falar que em Angola o sistema bancário ainda não está interligado aos bancos e cartões de crédito internacionais, como no Brasil.

Tomando os cuidados comuns a qualquer lugar com grande fluxo turístico (seguir as orientações dos guias, não ostentar jóias e ficar atento a batedores de carteira), Salvador é uma cidade bastante segura. A maioria dos restaurantes possui cardápio bilíngüe, e praticamente qualquer pessoa na rua dá informações básicas em inglês de como e onde conseguir uma cerveja, água, táxi etc. Os escritórios de turismo e o lobby de todos os hotéis são bem servidos de folhetos em inglês e espanhol.

Praias musicais
Se o tempo estiver bom (e está quase 300 dias por ano), vale a pena curtir o litoral soteropolitano. Das praias urbanas de Salvador, as mais freqüentadas são a do Porto, a do Farol da Barra, Ondina, Pituba, Rio Vermelho, a famosa Itapoã (onde fica a Lagoa do Abaeté), a da Armação e do Flamengo. Indo para o norte pela Estrada do Coco e depois pela Linha Verde chega-se facilmente a praias como Arembepe, que até hoje abriga uma vila hippie, a bela Itacimirim, a Praia do Forte (onde um projeto de preservação das tartarugas marinhas é desenvolvido), Porto de Sauípe, Barra do Itariri, Siribinha e finalmente Mangue Seco, já na divisa com Sergipe, onde foi rodado o filme Tieta do Agreste. Para falar das praias do sul da Bahia seria necessário outro artigo...

De volta à cidade, não faltam atrações para todos os gostos. Cultura? São inúmeros os museus e as salas de exposições: Museu de Arte Moderna da Bahia, Conjunto Cultural da Caixa Econômica Federal, Instituto Goethe, Museu Afro-Brasileiro, Museu de Ex-Votos do Senhor do Bonfim, Fundação Pierre Verger e Fundação Casa de Jorge Amado. A maior parte fica bem próxima do Centro Histórico, ou então no Largo do Pelourinho. Também não deixe de visitar as várias igrejas de arquitetura barroca e colonial, como a Igreja do Bonfim, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora da Conceição da Lapa, da Ordem Terceira do Carmo e de São Pedro dos Clérigos.

Charuto baiano
As opções de compras são muitas, desde artesanato e lembranças típicas no Mercado Modelo (na cidade baixa, descendo pelo elevador Lacerda), até os shopping centers Iguatemi e da Barra, sofisticados como os de São Paulo. As lojinhas de rua também são uma tentação. Talvez você já tenha ouvido falar das famosas pedras semi-preciosas brasileiras, mas dificilmente teve a oportunidade de experimentar um charuto baiano. No geral, podem não ser tão conhecidos e caros como os cubanos, mas alguns arrancariam elogios de Fidel...

A vida noturna em Salvador é um capítulo à parte. Praticamente toda noite há shows de graça no antigo Terreiro de Jesus, agora chamado de Praça 16 de Novembro. Não raro também no Pelourinho e na Praça Castro Alves. Vale a pena se informar no hotel sobre os ensaios de blocos afro, como o Ile Aiê, a Timbalada de Carlinhos Brown e o Olodum. O tradicional trio elétrico de Dodô e Osmar, o Expresso 2222 (do ministro da Cultura Gilberto Gil) e os de Ivete Sangalo, Margarete Meneses e o do Araketu também merecem ser vistos. Para quem prefere outros ritmos, a Praça do Reggae, também no Pelourinho, toca o som da Jamaica quase a noite toda, e a cena rock da cidade gerou artistas como Raul Seixas (o "pai" do rock no Brasil), Marcelo Nova, do Camisa de Vênus, e Pitty, a grande vencedora do VMB 2004.

Na Bahia de Todos os Santos, festa é o ano inteiro, não só durante o Carnaval, Reveillon e festas juninas. É também cultura do Brasil inteiro e da África, com gosto de sincretismo e miscigenação. E infra-estrutura para receber turistas do mundo todo com conforto e segurança maiores do que lugares como Rio de Janeiro ou São Paulo. Um lugar para vir e curtir numa boa.


Comida bahiana:aproxime-se com cuidado

Confira algumas dicas gastronômicas para você tirar o maior proveito de sua estadia

Por Vinicius Souza

A culinária baiana pode ser um pouco pesada para o estômago europeu.
Por isso, anote as seguintes dicas para colocar em prática quando estiver na cidade:

- Experimente os pratos típicos como o acarajé (bolinho de feijão amassado recheado com camarões secos e frito em azeite de dendê) e o vatapá (espécie de purê cozido que leva camarão, peixe, amendoim, castanha de caju e pimenta) no almoço e deixe o jantar para peixes ou carnes grelhadas.

- Para se manter bem hidratado do forte calor tropical de Salvador, abuse da água de coco e de todos os sucos naturais que puder experimentar, só encontrados no Brasil, como caju, cajá, mangaba, cupuaçu, graviola etc.

- Mesmo se parecem irresistíveis, evite as comidas preparadas na rua.

voltar
 

MEDIAQUATRO

Entre em contato

fone: 55 - 11 - 9631-0666

© copyright 2005 Mediaquatro